Na 2° Conferência Internacional de Mulheres Socialistas realizada em 1910 em Copenhague, Dinamarca, Clara Zetkin propôs homenagear as 129 operárias queimadas vivas numa fábrica de Nova Iorque, por exigirem redução da jornada de trabalho. A proposta foi fazer uma jornada mundial de luta no 8 de março, em homenagem a essas heroicas trabalhadoras têxteis. Essa proposta selava simbolicamente a íntima relação da caminhada libertadora das mulheres com a luta dos operários pela sua emancipação social.
Estamos no 8 de março de 2022, em um mundo de capitalismo em crise, de disputa pela hegemonia mundial, de financeirização crescente, de desinvestimento no setor produtivo da economia, de aumento de desemprego, de desregulamentação, informalização e precarização do mundo do trabalho. A pandemia da Covid 19 expôs ainda mais essa situação e mostrou como as mulheres foram as maiores vítimas, por estarem na sua maioria no trabalho informal, precário.
O 8 de março tem a marca da luta das trabalhadoras por igualdade no mundo do trabalho. E hoje, mais do que nunca essa marca se acentua quando constatamos uma realidade desigual, aprofundada pela crise económica, e por governos ultraliberais, de direita, como o do Brasil. E os dados estão aí para mostrar isso. Se a taxa de desocupação geral no Brasil é de 14,7%, a das mulheres é de 17,9%. (IBGE). E, 50% das brasileiras passaram a cuidar de mais uma pessoa na pandemia (SOF, Sempre Viva 2020)
As mulheres passaram a ser provedoras, mas continuam cuidadoras, sobrecarregadas, oprimidas, adoecendo por excesso de exigências. Hoje, 45% das mulheres são responsáveis de família, grande parte mães solo. A sobrecarga doméstica continua sendo um entrave ao caminho emancipatório das mulheres. E o crescente corte nos gastos públicos, o desmonte das políticas públicas de gênero só agrava essa situação. E o machismo, alimentado pela atual política conservadora, reforça a violência contra as mulheres, o feminicídio. Junto ao machismo, o racismo tem se exacerbado, afetado cada vez mais os filhos e filhas das trabalhadoras.
A realidade reforça cada vez mais nosso entendimento do imbricamento classe, gênero e raça da luta emancipadora das mulheres.
Vamos para as ruas neste 8 de março mostrar a resistência das mulheres a essa conjuntura adversa de crise econômica, política e sanitária, de avanço de forças de extrema-direita no Brasil, a essa onda conservadora, machista e racista, que pretende deter as mulheres em sua luta política transformadora rumo a igualdade e pelo fim de toda opressão.
Vai ficando claro que a luta cotidiana das mulheres por seus direitos, precisa desaguar numa ampla participação política, capaz de derrotar Bolsonaro e Claúdio Castro, e enfrentar a sub-representação elegendo mais mulheres de luta em 2022.
Não é por acaso o lema unificado nacionalmente: Pela vida Das Mulheres, Bolsonaro Nunca Mais, e aqui no Rio agregado Claúdio Castro Nunca Mais. Concretiza a urgência de unir amplas forças contra esse desgoverno da morte, da carestia e da fome; por um Plano Nacional de Desenvolvimento, com geração de renda e emprego digno, saneamento básico e moradia adequada; por Políticas Públicas de Gênero; combate efetivo à violência de género, ao racismo e a LGBTI fobia; defesa do SUS e da saúde integral das mulheres, por seus direitos sexuais e direitos reprodutivos; por uma educação de qualidade e combate aos estereótipos.
O grito que vai ecoar neste 8 de março vai ser pelo direito de viver sem fome, violência e racismo. Pela reafirmação do papel das mulheres onde elas quiserem, sobretudo no espaço público, nos espaços de poder e decisão, com sua autonomia econômica, mostrando sua força transformadora. A verdade é que a luta feminista emancipacionista hoje representa uma contestação ao capitalismo, ao patriarcado e ao racismo que nele se reproduzem.
O crescente protagonismo das trabalhadoras, das jovens e das negras eleva a força da luta feminista, que mostrará sua feição transformadora de norte a sul do Brasil neste 8 de março!
PELA VIDA DAS MULHERES!
BOLSONARO E CLAUDIO CASTRO NUNCA MAIS!
____________________________
Ana Rocha é jornalista e psicóloga com Pós-Graduação em Políticas Publicas e Governo, Mestra em Serviço Social. Foi Secretária de Políticas para as Mulheres do Município do Rio de 2013 a abril de 2016. Coordena o Centro de Estudos e Pesquisa da UBM (União Brasileira de Mulheres). É assessora de Gênero do Sindicato dos Comerciários do Rio. Secretaria da Mulher PCdoB/RJ. Da Coordenação do Fórum Nacional do PCdoB sobre a Emancipação das Mulheres.
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, Clara. – Marxismo e Feminismo: tensões e encontros de utopias atuais., encarte teórico, Revista Presença da Mulher, 2000.
ANTUNES, Ricardo – Adeus ao Trabalho? – São Paulo: Cortez Editora, 1995.
ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da propriedade Privada e do Estado, Obras Escolhidas, vol. 3. Lisboa- Moscou- 1985
ENGELS, Friederich. Carta a Bloch. Obras Escolhidas, vol. 3. Lisboa: Avante, 1985b
FEDERICI, Silvia. O Ponto Zero da Revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Editora Elefante, 2019
LOSURDO, Domenico. A Luta de Classes: uma história política e filosófica. Editora Boitempo. 2015
MARUANI, Margareth (org)). Trabalho, logo existo: perspectivas feministas. Rio de Janeiro: FGV, 2019
MÉSZAROS, Istvan. Para além do capital. São Paulo: Unicamp-Boitempo. 2002.
VALADARES, L. – A controvérsia “Feminismo x Marxismo”, in Revista Princípios, Editora Anita, SP, n* 18, junho/julho/agosto de 1990.
BEBEL, A. – La Mujer y El Socialismo, Ed. Akal, 1977