Leia o artigo da Secretária de Sustentabilidade do PCdoB-RJ, Raísa Vieira, sobre a relação entre a explosão dos casos de dengue e as mudanças climáticas:
Quando falamos dos impactos das mudanças climáticas não estamos falando sobre um problema do futuro, essa realidade já está nos afetando de diversas formas. O aumento global dos casos de dengue é um exemplo disso, como bem lembrou o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanon.
Os casos de dengue explodiram no Brasil e a situação no Rio de Janeiro é ainda mais grave. De acordo com o Ministério da Saúde e com a Secretaria Estadual de Saúde, somente neste ano foram registrados 217.481 casos no país e mais de 40 mil em nosso estado, o que equivale a 80% dos casos registrados no Rio em todo o ano de 2023.
O cenário é tão preocupante que o número de casos no Rio de Janeiro é seis vezes maior que o esperado e quatro mortes já foram confirmadas no estado.
Um estudo recente da UERJ mostra a ligação direta desses números alarmantes com o aquecimento global, além, obviamente, das condições urbanas e sociais do Rio de Janeiro. Segundo a pesquisa, o problema é tão grave que a dengue já perdeu seu caráter sazonal pois até mesmo no inverno foi registrado um aumento significativo dos casos!
Temperaturas altas, mudanças no ciclo de chuvas, e a incidência de secas resultantes do processo de mudança climática propiciam a expansão de arboviroses, que são doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos, sendo o Aedes aegypti o principal vetor. Para se desenvolver, o mosquito precisa de uma faixa ótima de temperatura, focos de água parada, e umidade suficiente para eclosão de ovos, além de um ambiente de propagação. Esses aspectos climáticos interferem na população de mosquitos nos espaços das cidades e, consequentemente, na exposição da comunidade à dengue, mas também a outras arboviroses como zika, chikungunya, malária e febre amarela.
O mosquito tem se tornado cada vez mais adaptado às mudanças do clima e os órgãos de controle brasileiros devem estar preparados não apenas para o aumento da incidência dessas doenças, mas também para temporadas de transmissão mais longas e uma expansão da área geográfica de ocorrência.
O desmatamento também favorece a propagação das arboviroses, já que áreas nativas ricas em biodiversidade, com mais predadores, tendem a inibir a presença do mosquito transmissor. O Aedes aegypti é uma espécie exótica e não consegue se instalar em uma área florestal, só se estabelece em ambientes com menos competidores e poucos predadores. Esse conjunto de fatores que reduzem a biodiversidade brasileira cria o nicho perfeito para o mosquito se instalar e se reproduzir. A conservação e recuperação da vegetação nativa dentro e fora das cidades são importantes estratégias de combate à proliferação do mosquito.
O Ministério da Saúde anunciou este ano uma estratégia de vacinação contra a dengue. A vacina começou a ser aplicada em fevereiro no público-alvo de regiões endêmicas, em 521 municípios brasileiros. Para frear o avanço da doença, a estratégia da vacinação deve ser aliada à eliminação das condições de desenvolvimento do mosquito.
O fato é que estamos diante de um problema grave que precisa ser enfrentado urgentemente!