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Por Jandira Feghali e Ricardo Calazans

Sempre existiram dois Rios de Janeiro. Um que se esconde atrás de muros, elitista, concentrador de poder e riqueza; e outro que se espalha pelas ruas, acolhedor, inventivo e generoso. Por uma série de razões (que nosso passado colonial e escravocrata explica), o Rio de trás dos muros sempre teve mais influência nos governos e na grande mídia, mas foi o Rio das ruas quem sempre deu – e continua a dar – identidade e resiliência à nossa cidade, que hoje completa 459 anos.

Dentro dos muros sempre houve um pessimismo inato em relação ao nosso futuro. As manchetes, é verdade, nunca ajudam muito. Dengue, alagamentos, calor extremo, milícias, tráfico, balas “perdidas”, vidas perdidas… A cidade que hoje faz aniversário é uma metrópole repleta de problemas urgentes e graves para resolver, da violência urbana e policial à crise climática. Problemas que assustam o “mercado”, inibem negócios, comprometem a economia e causam uma “fuga de cérebros” para outros lugares. Do lado de lá, a ordem parece ser: “o último a sair apague a luz”…

Já do lado de fora, nas ruas e calçadas, o papo é bem diferente. Quem está no corre precisa inventar, todos os dias, saídas para o que parece não ter saída. A rua é coletiva e seu conhecimento compartilhado para nos apontar alternativas a uma realidade indesejada. Pode ser o projeto Pretinhas Leitoras, de Elen Ferreira, no Morro da Providência, uma iniciativa linda de letramento racial crítico para crianças; ou as aulas públicas do professor, historiador e escritor Luiz Antônio Simas, autor de 19 livros sobre a história social do Rio e entusiasta de um outro “Brasil possível”, diverso, solidário, criativo e alegre, a partir do Carnaval e outras festas (e frestas) populares; ou ainda o projeto Favela&ODS, do ativista Raull Santiago, do Complexo do Alemão, que discute a Justiça Climática a partir das comunidades, principais vítimas do desequilíbrio ambiental e também criadoras de soluções incríveis de reciclagem, reflorestamento, limpeza coletiva; e que tal o Slam das Minas, grande referência para a juventude periférica, uma roda de rimas empoderadora e lúdica, que mexe profundamente com cada território por onde passa.

Dentro dos muros sempre houve um pessimismo inato em relação ao nosso futuro. As manchetes, é verdade, nunca ajudam muito. Dengue, alagamentos, calor extremo, milícias, tráfico, balas “perdidas”, vidas perdidas… A cidade que hoje faz aniversário é uma metrópole repleta de problemas urgentes e graves para resolver, da violência urbana e policial à crise climática. Problemas que assustam o “mercado”, inibem negócios, comprometem a economia e causam uma “fuga de cérebros” para outros lugares. Do lado de lá, a ordem parece ser: “o último a sair apague a luz”…

Já do lado de fora, nas ruas e calçadas, o papo é bem diferente. Quem está no corre precisa inventar, todos os dias, saídas para o que parece não ter saída. A rua é coletiva e seu conhecimento compartilhado para nos apontar alternativas a uma realidade indesejada. Pode ser o projeto Pretinhas Leitoras, de Elen Ferreira, no Morro da Providência, uma iniciativa linda de letramento racial crítico para crianças; ou as aulas públicas do professor, historiador e escritor Luiz Antônio Simas, autor de 19 livros sobre a história social do Rio e entusiasta de um outro “Brasil possível”, diverso, solidário, criativo e alegre, a partir do Carnaval e outras festas (e frestas) populares; ou ainda o projeto Favela&ODS, do ativista Raull Santiago, do Complexo do Alemão, que discute a Justiça Climática a partir das comunidades, principais vítimas do desequilíbrio ambiental e também criadoras de soluções incríveis de reciclagem, reflorestamento, limpeza coletiva; e que tal o Slam das Minas, grande referência para a juventude periférica, uma roda de rimas empoderadora e lúdica, que mexe profundamente com cada território por onde passa.

Seria interessante, não só para a cidade, mas para todo o Brasil, que esta recuperação seja plena e urgente. O Rio sempre foi um microcosmo brasileiro, uma caixa de ressonância de nossos problemas e dilemas – mas também de nossas qualidades. Apesar de tudo, a Cidade Maravilhosa ainda é a imagem-símbolo do Brasil no mundo. Para o bem e para o mal, como dizia o professor, economista e ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa, na introdução de seu livro “O Rio de todos os Brasis”: “A crise do amor-próprio republicano renega o Rio e não coloca nada no seu lugar: nem Brasília, nem São Paulo, nenhuma outra cidade brasileira substituiu o Rio. A desconstrução da identidade nacional e a crise de autoestima dissolveram a longa paixão do Brasil pelo Rio – logo, por si mesmo. Ao destruir-se o símbolo do país, quebraram-se o molde e o espelho”.

Depois de um longo tempo de abandono e desprezo pelo desgoverno anterior, o Rio voltou a receber a atenção que merece no novo governo Lula. Este ano, o Rio de Janeiro sedia o G20, a Cúpula das principais economias do mundo, com um direcionamento ousado: dar protagonismo ao Sul Global e exigir das nações mais ricas a redução das desigualdades. Excelente momento para restaurar o molde e o espelho quebrados. Nossa cidade tem muito a dizer e propor, basta ouvir as pessoas certas. E elas não estão atrás dos muros. Estão, como sempre estiveram, com a sabedoria das ruas. Apesar dos pesares, o Rio tem tudo para chegar aos 460 anos, em 2025, com o mais carioca dos sorrisos no rosto.

Jandira Feghali é Deputada Federal (PCdoB-RJ)

*Mídia Ninja