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Na última sexta-feira (3), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou um importante encontro em homenagem ao legado de Luiz Pinguelli Rosa, além da discussão sobre o presente e o futuro da ciência brasileira.

Quatro Academias nacionais, sediadas no Rio de Janeiro, como a própria ABC, Academia Nacional de Medicina (ANM), Academia Nacional de Engenharia (ANE) e Academia Brasileira de Letras (ABL), se reuniram com ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, para celebrar o legado de Pinguelli e discutir os muitos desafios da ciência nacional.

Com um auditório superlotado, também participaram do evento a presidente da ABC, Helena Nader, o presidente da ANE, Francis Bogossian, o presidente da ANM, Francisco José Sampaio, e o historiador José Murilo de Carvalho, representante da ABL. Luciana estava acompanhada do secretário-executivo do MCTI, Luís Fernandes.

O encontro marcou o lançamento oficial do site sobre Luiz Pinguelli, projeto apoiado por um grupo de entidades e por amigos e familiares do professor. Durante a homenagem foi enaltecida a trajetória de lutas do pesquisador, desde sua defesa irrestrita da democracia durante o golpe militar de 64, o que o levou a ser preso pela ditadura, até suas contribuições mais recentes na luta contra as mudanças climáticas e sua defesa perene da ciência e do ensino público.

Professor Luiz Pinguelli Rosa morreu em 2022 – Foto: Divulgação/ABC

Físico nuclear e referência em política energética, Luiz Pinguelli Rosa foi um dos mais conhecidos pesquisadores do país. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi eleito cinco vezes diretor da Coppe/UFRJ e ocupou a presidência da Eletrobras. “Pinguelli foi um grande cientista, um grande gestor e um grande brasileiro, que contribuiu imensamente para nossa ciência e para formar as gerações futuras”, sintetizou a presidente da ABC.

A ministra Luciana Santos destacou a trajetória política do cientista e suas muitas bandeiras. Além da defesa da democracia e da ciência, Pinguelli atuou na luta pelo desarmamento nuclear e foi um dos primeiros a perceber o imperativo da transição energética num cenário de mudanças climáticas. “Pinguelli era pura energia”, brincou Luciana.

“Muito além de sua contribuição científica, que é imensurável, ele atuou pelo fortalecimento e a soberania da ciência nacional. Como poucos, soube transitar com a mesma liderança pelas áreas de exatas e humanidades”, finalizou a ministra.

A

presidente da ABC, Helena Nader, listou uma série de pontos caros aos cientistas nacionais, como a liberação total do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a recomposição da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação (CCT), o fortalecimento e integração dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e a recomposição total no valor das bolsas de graduação e pós.

O presidente da ANM, Francisco Sampaio, reforçou o compromisso das entidades de colaborar e cobrar o governo, e pediu atenção especial para as bolsas de Iniciação Científica. “São a melhor forma de formar novos e excelentes cientistas”, disse. Já o presidente da ANE, Francis Bogossian, reforçou a mensagem de união entre as entidades e pediu a retomada do investimento público. “Só com a retomada do desenvolvimento vamos criar empregos para a mão de obra não-especializada”, afirmou.

José Murilo de Carvalho da ABL levantou um questionamento: “O que fizemos do Brasil em 200 anos desde a Independência?”. Ao discorrer sobre os inúmeros desafios sociais do país, o Acadêmico classificou como “vergonhosos” os números da miséria e desigualdade brasileira. “A ciência só faz sentido se voltada para o bem-estar da sociedade”, concluiu.

Além do FNDCT, a ministra também se comprometeu a pautar a retomada dos concursos públicos para os INCTs, que estão há 10 anos sem renovação de pessoal; o desenvolvimento de uma nova Estratégia Nacional para CT&I com base nas contribuições da comunidade científica e a reestruturação dos diversos conselhos que foram enfraquecidos e emparelhados durante o governo anterior.

Quanto às políticas e programas para incentivo e permanência de mulheres na carreira científica, a ministra afirmou que estratégias estão sendo traçadas e deverão ser anunciadas no 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Durante a conversa, Luciana fez questão de reiterar o papel central da pesquisa científica no enfrentamento dos grandes desafios nacionais, como a defesa da Amazônia; a recuperação da soberania e o combate à fome, à miséria, à desigualdade, e a todos os tipos de discriminação. “Tudo passa pela ciência”, resumiu.

Ao fim da cerimônia, a deputada estadual Elika Takimoto (PT), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), entregou uma Moção de Aplauso e Louvor póstuma à Luiz Pinguelli, representado por seus familiares.

 

*Hora do Povo