O presidente estadual do PCdoB-RJ, João Batista Lemos, concedeu uma entrevista ao Portal do Partido para falar sobre a grande vitória de Lula e sobre os desafios futuros.
Batista ressaltou a dimensão histórica da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandato e a derrota do fascismo de Bolsonaro nas urnas:
“Essa é uma vitória épica de dimensão histórica, uma luta do povo brasileiro, sobretudo, das massas populares e da classe trabalhadora, da Frente Ampla sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva.Conquistamos a democracia e imprimimos uma derrota eleitoralao fascismo no Brasil. Apesar de toda a ofensiva que fizeram através de um estelionato eleitoral, com a compra de parlamentares com o bilionário orçamento secreto, com o uso da PRF para dificultar o povo nordestino de votar, com a disseminação criminosa e estruturada de fake news. Apesar de tudo isso, somente Lula com a Frente Ampla pôde reunir condições para derrotar o fascismoe resgatar a democracia, afinal, a ascensão de Bolsonaro foi decorrente do golpe em 2016que – além de tudo – trouxe grande desigualdade social para o nosso paísatravés do neoliberalismo. Retrocesso em toda linha”, ressaltou o líder comunista.
Batista falou sobre o papel de Lula nessa grande vitória e sobre a reação do Mercado diante do programa político contratado nas urnas no dia 30 de outubro:
“Somente com Lula foi possível conquistar essa vitória, é fundamental observar o papel desse indivíduo na história, que soube como ninguém entender os anseios e demandas do povo brasileiro. Essa vitória tem um significado importantíssimo para que a classe trabalhadora, atacada por todas as frentes, econômica, política e ideológica, se reencontre quanto classe, para protagonizar o projeto de Salvação Nacional e de Transformação Social ao mobilizar todas forças políticas e sociais que lutam para as transformações que se fás necessária em nosso país, esta a luta de classes colocada para nós nesta quadra histórica.“O neofascismo ancorado na política neoliberal promovida por Guedes, não é fenômeno só do Brasil é reflexo da crise mundial do sistema capitalista neoliberal e imperialista, foi uma barreira ao desenvolvimento econômico, democrático e social de nosso país. O “Mercado” que viu Bolsonaro e Guedes furarem o teto de gasto diversas vezes, inclusive para comprar votos com a máquina do Estado, não reclamou em nenhum momento como está fazendo com o governo Lula que ainda nem assumiu. O Lula foi muito feliz na COP 27 ao afirmar que não é possível cuidar do meio ambiente sem combater a fome e as desigualdades sociais. Aqui no Brasil nós temos milhões de pessoas passando fome e a desigualdade social é alarmante, portanto, é fundamental garantir o Bolsa Família de R$600 e 150 reais para cada filho com até seis anos de idade, o aumento real do salário mínimo, e a isenção do IRPF para quem ganha até R$5 mil. Essas medidas são extremamente necessárias e o “Mercado” precisa entender que o Brasil não é uma empresa, é o povo brasileiro”, afirmou.
João Batista Lemos também fez questão de chamar a atenção para o impacto da vitória de Lula na América Latina. Segundo o presidente do PCdoB-RJ:
“O mundo se torna multipolar com o desenvolvimento de diversos blocos. Nesse sentido, o Brasil precisa construir um grande bloco aqui na América Latina, que garanta a soberania, solidariedade e complementaridade entre os povos no nosso continente.O novo momento da América Latina com as sucessivas vitórias do campo popular e progressista reforça a trajetória de luta do povo latino-americano. Os golpes militares nas décadas de 1960 e 1970 foram executadas para interromper um processo transformador do povo do nosso continente. O que pude acompanhar já é a terceira onda democrática e nacional. A integração da América Latina a partir de um norte popular e de soberania nacionalé fator integrante do novo projeto de desenvolvimento do Brasil. Saudamos o primeiro encontro de dirigentes das nações, com o objetivo de fundar uma nova UNASUL, como também a tão atacada, pelo neocolonialismo de Bolsonaro, a importante reunião do Fórum de S. Paulo. A questão da integração soberana e solidária tem um caráter estruturante em nosso projeto de Nação. Precisamos formar um bloco no continente para inserir a América Latina na geopolítica e na economia global com soberania e de forma competitiva”.
Batista ainda falou sobre o novo quadro que se abriu com a vitória de Lula para derrotar o fascismo, resgatar a democracia e recuperar o Brasil:
“A vitória não se mede pelo número de votos, mas pelo tamanho da conquista política e por seu caráter histórico. Essa foi uma vitória de uma Frente Ampla que – capitaneada pela Federação Brasil da Esperança (FE Brasil) – reuniu mais de 10 partidos e lideranças representativas de diversos setores da sociedade brasileira. Uma grande unidade que enfrentou o fascismo e ódio do bolsonarismo. Derrotamos eleitoralmente o neofascismo, mas se faz preciso derrotá-lo culturalmente. Não será fácil atuar nessa conjuntura, mas Lula tem total capacidade de liderar um governo com a amplitude necessária para reunificar o país e resgatar efetivamente a normalidade democrática. É evidente que o poder econômico-financeiro vai tentar influenciar o governo para fazer prevalecer os seus interesses, por isso, é muito importante ter bastante cuidado com as escolhas para postos estratégico como o Ministério da Fazenda e outras pastas relativas à Economia. Precisamos de quadros que assumam o programa de desenvolvimento do país com geração de emprego, aprofundamento da democracia, distribuição de renda e a retomada da industrialização. Será nesse processo o desafio de construir uma nova correlação de forças, dar vida a Federação Brasil da Esperança, unir, organizar e educar politicamente o povo para as grandes mobilizações políticas de massa em torno do programa de salvação e transformação social”, disse João Batista Lemos.
O presidente do PCdoB-RJ também demonstrou preocupação com o aparelhamento de instituições realizado pelo governo Bolsonaro. Segundo Batista:
“Também será preciso acabar com o aparelhamento bolsonaristacom reformas democráticas em instituições de Estado como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal e em outros setores da Segurança Publica, que além das intervenções bárbaras e altamente letais nas favelas do ERJ, teve uma atuação partidarizada no dia das eleições e nas manifestações golpistas que assolaram o Brasil nas últimas semanas. Vale destacar, a importante contribuição de Luís Eduardo Soares, ex-secretário de segurança e atual integrante da equipe de transição de Lula, sobre o episódio de Aracruz no dia 25 de novembro, quando um jovem filho de um policial militar com uma braçadeira nazista invadiu duas escolas e efetuou o massacre. Ele fez a seguinte síntese: O problema mais urgente do Brasil é a ruptura entre autoridade e poder”.
João Batista Lemos também ressaltou o quadro estadual e falou sobre a importância estratégica do Rio de Janeiro para o futuro governo Lula:
“Aqui sofremos uma derrota com a campanha majoritária de Marcelo Freixo PSB, se buscou ampliar trazendo Cesar Maia (PSDB) como candidato a vice, uma aliança que reuniu PSB, PT, PSOL, PCdoB, PV, REDE. Não conseguimos maior interavidade com o povo carioca e fluminense nem mesmo diante a polarização nacional, pois não unificamos todas as forças democráticas e populares já no primeiro turno. Com isso não conseguimos suplantar a maquina de Claudio Castro com mais de 20 bilhões da privatização da CEDAE e dos agentes fantasmas do CEPERJ, prefeitos, e amplos setores das igrejas. Faturou o pleito já no primeiro turno com cerca de 58%, ganhou em todos os municípios(exceto em Niterói) e seu partido fez a maior bancada da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ)”.
João Batista Lemos também falou sobre as perspectivas futuras. De acordo com o presidente do PCdoB-RJ:
“ Faz-se necessário partir da Frente Ampla de apoio a Lula realizada no segundo turno. É importante também a construção de um bloco com os partidos de base popular aqui no Rio de Janeiro, a construção desse bloco político mais avançado deve impulsionar aqui no estado o novo projeto nacional de desenvolvimento liderado por Lula, mais investimentos para o ERJ, geração de emprego, educação Integral e pública, SUS de qualidade, democratização da segurança publica, entre outras políticas publicas para defender o Povo Fluminense. Essa frente política e social, a partir da experiência bem sucedida dos Comitês Populares de Luta, jogará o papel de organizar o povo como base de sustentação e de impulsionamento do novo governo e desse novo projeto de desenvolvimento”.
O presidente do PCdoB-RJ ainda falou sobre o desempenho eleitoral do Partido Comunista do Brasil:
“Nós não podemos relacionar um partido comunista ideológico, com seus condicionamentos históricos e internacionais, às mesmas condições de disputa eleitoral que outros partidos. É um fato que PCdoB poderia ter resultados melhores em nível nacional, nós tínhamos metas maiores. Mas é fundamental destacar que nós tivemos uma conquista muito grande antes mesmo do processo eleitoral com a consolidação da Federação Brasil da Esperança (FE Brasil). Conquista fundamental para manter a institucionalidade do nosso partido. Qual é o outro partido que se reivindica comunista que tem representação no Congresso Nacional? Somente o Partido Comunista do Brasil (PCdoB)”, utilizando-se da flexibilidade tática e firmeza nos princípios”, disse.
João Batista Lemos também abordou a estratégia do Partido no processo eleitoral deste ano. Segundo o líder comunista:
“Essa foi a primeira eleição que disputamos dentro da Federação, portanto, precisamos adotar a estratégia de foco e concentração, sobretudo, nas candidaturas federais. Diante disso, o PCdoB teve um pequeno revés em nível nacional com a redução de nossa bancada na Câmara Federal, mas no Rio de Janeiro mantivemos nossas posições e promovemos novas lideranças, e, diante da vitoria de Claudio Castro já no primeiro turno, saímos relativamente vitoriosos. Nós reelegemos Jandira Feghali com mais de 84 mil votos (uma ampliação em relação à eleição anterior), o que mostra que Jandira é uma líder consolidada no Rio de Janeiro, e elegemos. A eleição de Dani Balbi, 65mil votos, para nós foi um grande êxito e fez história, o que impõe também a necessidade de avaliar melhor esses novos fenômenos eleitorais. A Dani é uma jovem mulher de Partido e consegue articular diversas lutas fundamentais para o PCdoB, é uma mulher negra, periférica, professora universitária e doutora; é a primeira mulher trans a assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Além das vitórias de Jandira eDani, a Enfermeira Rejane alcançaa primeira suplência da Federação faltou-lhe somente cerca de mil votos, pode assumir uma cadeira na Câmara a qualquer momento e devemos trabalhar pra isso. Não elegemos Leonardo Giordano, vereador de Niteroi ligado a frente de Cultura, conquista 15 mil votos, o que para nós é muito importante e reforça a liderança do nosso camarada não só em Niterói mas no estado. Também lançamos a candidatura de Lilian Behring a deputada estadual para dar sustentação à candidatura da Rejane. Lilian teve uma grande votação e assumiu a primeira suplência na Federação, ganhando luz própria.E, diante disso, a Comissão Política Estadual do Partido avaliou que foi correta a nossa estratégia de concentração e Mesmo diante de debates em nível nacional sobre os riscos de lançarmos duas candidaturas à Câmara Federal, o Partido com ousadia manteve a candidatura da Enfermeira Rejane pela particularidade do Rio, onde temos uma grande base na categoria da Enfermagem, e esses trabalhadores e trabalhadoras também aspiravam a uma ação parlamentar nacional, assim criamos a possibilidade de ter duas deputadas federais e estaduais”. Isso não elimina as lições que devemos tirar coletivamente, na condução política e, sobretudo, no nosso enraizamento nos territórios, locais de trabalho e estudo, no campo da comunicação, nos municípios, nos mandatos parlamentares, sindicais e nas entidades sociais.
João Batista Lemos também falou sobre o Partido em nível nacional. De acordo com o líder comunista:
“Impõe-se a necessidade de revigorar o partido em sua unidade, identidade e natureza de classe na contemporaneidade. Quais são os nossos problemas de fundo e em nível nacional? Faz-se necessário abrir e agendar um debate profícuo sobre a perda de votos do Partido, sobretudo no Sudeste, e a baixa renovação de lideranças. Entre os múltiplos aspectos que precisamos analisar (além da guerra cultural anticomunista), em minha opinião, a centralidade de nossas insuficiências está na baixa organicidade com a viva luta de classes. É no curso e nunca a parte dos acontecimentos políticos, que se faz refletir nos processos eleitorais. Não há contraposição entre luta institucional, ideológica e de massas. Como no Brasil as eleições acontecem de dois em dois anos, nosso tempo, inteligência e energia erroneamente só ficam quase que exclusivmente na primeira, invertendo nossa estratégia. A luta institucional nesse caso concreto das eleições deve ser ponto de chegada e não de partida, deve ser fruto de nosso trabalho entre o povo. São nas lutas populares, econômicas , culturais e ideológicas, específicas e gerais, nas ruas e nas redes sociais, que surgem novas lideranças capazes de ganhar corações e mentes das pessoas. Ainda mais se tratando de um Partido Comunista, aí se coloca a questão da centralidade de nossa natureza de Classe, ao rebaixar esta concepção, estamos mais vulneráveis à pressão e às deformações da democracia burguesa; muitas armadilhas são impostas à ação do Partido. Encontrar nosso lugar e nosso papel nessa complexa luta política e cultural é o nosso grande desafio. Penso que é óbvio que devemos partir de nossa Identidade. É comum escutarmos que nossa Identidade está em nosso Programa, penso que seríamos metafísicos se não tratamos nosso Programa como nossa Representação, isso é, a teoria com a prática e vice-versa. Aqui nos defrontamos com um vetor estratégico para crescer nossa influência política e eleitoral rumo à transformação social via fortalecimento da nossa relação orgânica com a “Nova Classe Trabalhadora”com toda sua heterogeneidades da era digital, da chamada Industria 4.0 (que revolucionou todas relações sociais).Esse novo momento poderia garantir aos trabalhadores mais tempo de lazer, cultura, mas, sob o neoliberalismo, aumentou a super exploração do trabalho com as plataformas digitais, ampliou o desemprego, as relações de trabalho foram desregulamentadas, individualizou o trabalhador com a pjotizaçao e o empreendedorismo, utilizou-se também de seu corte de gênero, de etnia, orientação sexual e etária, para desconstruir sua consciência de classe e fragmentar as lutas sociais. O Partido tem um grande desafio de criar as condições para unificar o conjuntodos trabalhadores e trabalhadoras que vivem do seu próprio trabalho e não do trabalho alheio, canalizar as lutas pelos reconhecimentos identitários na luta de toda classe com novas formas de organização e de comunicação. Devemos conhecer a classe, suas novas aspirações, contribuir para realizar sua própria experiência e elevar seu nível de consciência política para se encontrar quanto classe social.
Batista finalizou a entrevista dizendo como o Partido deve crescer. De acordo com o presidente estadual do PCdoB:
“Todas e todos comunistas devem se tornar intelectuais orgânicos da classe, tornar-se representante e não se arvorar de vanguarda. É necessário que o Partido, como sujeito coletivo se coloque à altura de nosso tempo, devemos conquistar a representação real da classe trabalhadorana defesa de seus interesses imediatos e futuros, o que passa hoje pelo êxito do governo Lula, inclusive pela reeindustrialização que, além de tirar o pais deste atoleiro econômico, aumentará seu peso político e econômico na sociedade brasileira. É fundamental construir uma nova maioria política na luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento tendo como norte o Socialismo. O partido em momentos históricos complexos conseguiu dar respostas e abrir perspectiva para luta de nosso povo, motivo de sua resiliência. O Partido do Socialismo está diante de um novo desafio histórico”.