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Por Enfermeira Rejane 

 Os profissionais de enfermagem sempre arriscaram a sua própria saúde para cuidar das pessoas. Faz parte do compromisso que todos nós, da saúde, firmamos com a vida. Mas poucas vezes na história deste país isso ficou tão evidente como na pandemia.

Somos, no Brasil, 2,3 milhões de técnicos, auxiliares e enfermeiros. Esse exército esteve na linha de frente do combate à Covid-19. Quase mil se foram, vítimas das complicações do coronavírus. A maioria o contraiu enquanto tentava salvar vidas. Muitos tiveram a saúde mental prejudicada, levados ao limite do esgotamento.

Perdemos centenas de profissionais por desleixo, por falta de providências para garantir um mínimo de segurança, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Fomos para a linha de frente dessa guerra sem máscaras adequadas para nos proteger da infecção, além da falta de testes para quem cuidava dos contaminados. Sem contar que, como todos os brasileiros, fomos vítimas do atraso na compra de vacinas, que comprovadamente salvaram o mundo.

A

 dedicação dos profissionais de enfermagem à missão de salvar vidas não mudou na pandemia. Tampouco foi diferente, nesse período, o desrespeito que sofremos no dia a dia nos locais de trabalho. Até o início de maio, Mês da Enfermagem, sequer tínhamos um piso salarial nacional. Após anos de luta, aprovamos no Congresso o PL 2564, que estabelece piso de R$ 4.750 para enfermeiros, sendo 70% desse valor para técnicos e 50% para auxiliares e parteiras. Foi uma vitória linda e merecida no round de uma luta que, no entanto, está longe de terminar.

 Agora, para a lei ser definitivamente implantada, além da sanção presidencial, precisamos aprovar uma PEC que garanta os recursos para o pagamento do novo piso. Para isso, precisaremos de dois terços dos parlamentares no Congresso Nacional. Estamos também na batalha pela conquista do limite civilizatório de 30 horas semanais para a jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem. Hoje, há expedientes que ultrapassam as 50 horas sem remuneração extra, situação que se intensificou na pandemia.

 No Estado do Rio, fizemos uma lei para exigir que nossa categoria tivesse uma sala de repouso em cada unidade de saúde. Mas muitas ainda não a disponibilizam, questionando a obrigatoriedade na Justiça. Já vi hospital com cômodo de repouso improvisado ao lado do necrotério. É uma afronta à nossa dignidade e ao nosso bem-estar emocional. Neste mês de maio voltamos às ruas, depois de muito tempo de isolamento social, para exigir respeito. Ninguém precisa passar por um hospital ou ter a vida ameaçada para entender que merecemos um tratamento digno. Mas as demonstrações de gratidão e reconhecimento de cada paciente à dedicação dos profissionais de enfermagem nesses anos difíceis ficarão para sempre em nossas mentes e em nossos corações.

 

*Artigo originalmente publicado por O GLOBO