Há 49 anos, na região do Araguaia, militantes do Partido Comunista do Brasil iniciavam a organização da maior resistência à ditadura militar brasileira: a Guerrilha do Araguaia.
Durante quase três anos, os comunistas estabeleceram laços com os campesinos e a população da região. Esse apoio local foi fundamental para a derrota de duas investidas do Exército, que não obtiveram êxito em cessar as ações dos guerrilheiros. Diante desse revés, as forças armadas mobilizaram, ao todo, 25 mil homens para reprimir e torturar a população com a finalidade de derrotar a guerrilha.
Nesse dia, lembramos os nossos jovens que tombaram e dedicaram sua vida à luta na transformação do Brasil. Muitos ainda encontram-se desaparecidos até hoje e, lamentavelmente, os seus familiares não puderam enterrar os seus corpos como solenidade de despedida. Essa ausência causa enorme dor entre os familiares. Um desses exemplos é o caso da carioca Telma Regina, estudante da UFF e guerrilheira do Araguaia. Ela chegou à região da Araguaia em 1971, onde integrou-se ao Destamento B, às margens do Rio Gameleira. Segundo relatos de moradores, foi capturada e morta em janeiro de 1974, quando a maior parte da Guerrilha já se encontrava desmantelada e não oferecia resistência. Tinha 27 anos e seu corpo nunca foi encontrado.
Alguns anos atrás, a sua família compartilhou e divulgou uma de suas cartas que expõe o sentimento desses guerrilheiros ao dedicarem suas vidas na realização da resistência à ditadura militar.
No dia 20 de abril às 18 horas em nossa página do Facebook realizaremos uma justa homenagem a esses guerrilheiros!
31/01/1971
Querida família,
Espero que vocês tenham entendido o que está ocorrendo. Estamos felizes e na certeza de que isto é realmente o que queríamos. Não poderíamos viver tranqüilos, sossegados na vida do “dia a dia”, tendo a consciência de que é preciso fazer alguma coisa para libertar nosso povo da miséria e da exploração. A revolução brasileira está em processo acelerado e não podemos nesta hora nos omitir e deixar de dar nossa contribuição efetiva. Ninguém vai lutar pelo nosso povo a não ser nós mesmos, cabe a nós esta nobre tarefa de ser vanguarda na luta pela libertação de nosso povo e do povo explorado do mundo todo…
Este mundo corrupto, infeliz, cheio de contradições, de misérias, de vícios que conhecemos, não deixaremos para os outros. Nas mãos de cada um de nós está esta responsabilidade. Qualquer homem comum é capaz de construir um mundo melhor. Para isso é necessário que se tenha disposição para lutar, dedicar-se de corpo e alma a esta tarefa, que é a maior contribuição que um homem pode dar à história, à humanidade…
Agora sabemos que nossa passagem pelo mundo foi importante. É necessário estar-se convicto para poder de sã consciência abdicar da vida privada, particular, para dedicar-se de corpo e alma a uma causa política universal… Estamos muito felizes… Esta foi a vida que de livre e espontânea vontade escolhemos… É movido pelo amor de vocês que lutamos. É pensando nos pais, filhos e irmãos que sofrem e morrem nas prisões. É pensando em milhões de famílias que vivem em condições subumanas, vendo seus filhos morrerem de fome… É para que todos possam ter o carinho e o amor de suas família, e possam ser felizes como nós, que lutamos…
Estamos aqui porque precisam de nós. Este povo miserável, doente e analfabeto precisa de quem os ajude e nós estamos prontos para isso… Vocês devem ficar orgulhosos em saber que o que nos ensinaram e a cultura que vocês nos possibilitaram ter, não está sendo utilizado à toa, que nós não nos corrompemos pelo dinheiro e fomos fiéis ao nosso ideal…
Esta vontade terrível de viver, esta alegria pela vida, este amor pelo homem, pela humanidade, esta esperança de um mundo melhor, aprendemos com vocês, em todas nossas alegrias e tristezas… Não deixaram que nos transformássemos em egoístas, individualistas. Quero que meus sobrinhos se orgulhem de mim… Quero que eles, ao serem adultos, desfrutem daquilo que me esforcei para deixar para eles… Alguém dizia: “Quem não conhece a verdade é apenas um ignorante, mas quem a conhece e a esconde é um criminoso”.
Telma Regina Cordeiro