Por Theófilo Rodrigues*
Muito tem sido dito sobre a cidade do Rio de Janeiro contar com quatro mulheres candidatas com chances reais de ir ao segundo turno da eleição municipal: Benedita da Silva do PT, Rejane Almeida do PCdoB, Martha Rocha do PDT e Renata Souza do PSOL. O que poucos sabem é que, no alto da serra, na cidade de Petrópolis, uma outra mulher também é cotada para chegar ao segundo turno da disputa pela prefeitura da cidade: a professora Lívia Miranda.
Filiada ao PCdoB, Lívia Miranda é a única mulher entre os 14 postulantes na disputa pela prefeitura da cidade. Essa característica lhe coloca num lugar privilegiado, num contexto em que o protagonismo maior das mulheres se tornou uma exigência cada vez maior do eleitorado.
Mas a novidade não para por aí. Lívia Miranda é candidata de um amplo movimento da sociedade civil petropolitana que se reúne em torno do movimento dos Comuns. Educadores, professores, pesquisadores e especialistas na área de educação têm se reunido permanentemente para elaborar de baixo para cima a plataforma de Lívia para a cidade. Algo inédito na política de Petrópolis.
Liderado nacionalmente pela gaúcha Manuela d´Ávila, o movimento Comuns tem por objetivo aproximar da política institucional certos setores da sociedade civil que até então estavam afastados. No caso de Petrópolis, isso parece estar dando certo.
O projeto, como se vê, não é personalista. Além de Lívia, o PCdoB construiu com o movimento do Comuns uma grande chapa de candidatos à vereança que é formada majoritariamente por nomes de trabalhadoras e trabalhadores negros, além de lideranças populares e religiosas. Aliás, a diversidade religiosa merece atenção. Entre os candidatos estão desde evangélicos de esquerda até praticantes do Candomblé. É sintomático que isso ocorra no PCdoB, afinal foi o escritor e deputado comunista Jorge Amado quem inseriu na Constituição do país o tema da liberdade religiosa.
Nessa nominata se destaca o jovem professor Daniel Iliescu, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e atual presidente do PCdoB em Petrópolis. Essa é a segunda vez que Iliescu se candidata na cidade. Na primeira vez, em 2016, não foi eleito por muito pouco. Agora, o ex-líder estudantil não só é o responsável por promover e incentivar as principais inovações na cultura política petropolitana, como também é considerado o puxador de votos da legenda.
Entre todas essas inovações que Iliescu traz, uma é a mais original e promissora: o “mandato compartilhado”. Há um acordo entre todos os pré-candidatos do partido para que, durante um ano de mandato, aqueles que forem eleitos abram espaços para que os suplentes assumam e apresentem suas propostas para a cidade em forma de projetos de lei. Com essa medida, o partido passa a mensagem para a sociedade de que o mandato não é individual, mas sim coletivo.
Com a candidatura de uma mulher para a prefeitura, a aproximação entre a sociedade civil e a política, a formulação programática de baixo para cima, a inclusão de uma grande quantidade de trabalhadores negros na chapa para vereadores e a ideia do “mandato compartilhado”, o PCdoB e o movimento dos Comuns dão uma verdadeira aula de como pode e deve ser a política. Um bom sinal em tempos de individualismo exacerbado.
Theófilo Rodrigues é cientista político.